terça-feira, 9 de agosto de 2011

Elaboração Conceitual e Relação de Ensino

ELABORAÇÃO CONCEITUAL & RELAÇÃO DE ENSINO -
(Apenas algumas anotações)
Helen Cristine Bido Brandt Dellosso


Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.

INTENÇÃO: refletir sobre a elaboração dos conceitos científicos ou escolares que modificam os conceitos espontâneos ou cotidianos os quais os alunos chegam à escola, pois cabe a escola proporcionar de maneira organizada a transmissão e assimilação do conhecimento elaborado.

“É o aprendizado que possibilita, movimenta e impulsiona o desenvolvimento. O aprendizado é, portanto, o aspecto necessário e universal, uma espécie de garantia do desenvolvimento das características psicológicas especificamente humanas NE culturalmente organizadas.” (REGO, in Oliveira, 2002, p.50)


Faz-se necessário percorrer os passos de Padilha (2008) para orientar esta reflexão:
  1. A ESCOLA PARA TODOS
                        Fala-se da democratização ou da “escola para todos”, porém a entrada, na escola, das crianças e jovens que até então não tinham essa oportunidade traz consequências para os dois: a conservação da escola que existia não dá conta de todos e o discurso de que as crianças não aprendem e os professores não estão preparados.
  1. ALFABETIZAR É COMPROMISSO POLÍTICO
A provinha Brasil tem o objetivo de acompanhar, avaliar e melhorar a qualidade da alfabetização, ou seja, a intenção é averiguar se os alunos da rede pública estão alfabetizados até aos 8 anos e caso não estejam, serão oferecidas oportunidades para atender esses alunos com dificuldades na aprendizagem. Mas os professores conhecem e acompanham seus alunos e se estão aprendendo ou não. O número é alto de crianças no EF que não estão lendo e escrevendo já é fato, mas as providências por meio de “aulas de reforço” sem salas de apoio e sem se saber o que se fazer é um empecilho. Segundo Mèzaros (in PADILHA, 2008) “não haverá universalização da educação sem a universalização do trabalho por serem indissociáveis e substanciais a todos os seres humanos.
  1. ALFABETIZAR É PRÁTICA PEDAGÓGICA INTENCIONAL E SISTEMÁTICA. 
A escola é o espaço social mais importante para aprender ler e escrever, porque não acontece individualmente, a escrita é cultural e depende do contexto social. A partir da alfabetização começa um novo período da elaboração conceitual por meio de experiências concretas de utilização da escrita porque a criança segue quem sabe e se apropria da escrita que são símbolos elaborados culturalmente. As funções superiores que são características próprias dos homens são desenvolvidas graças à leitura e a escrita além de ter a oportunidade de conhecer o mundo de forma científica, desvendar o desconhecido, reivindicar, ter prazer, lazer, informações e apreciar o mundo.
  1. APROPRIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS SOBRE A LEITURA E ESCRITA.
  • Independência entre oralidade e escrita: Bakhtin afirma que “a língua não é o reflexo das hesitações subjetivo-psicológicas, mas das relações sociais estáveis dos falantes.” (BAKHTIN, 2004, p.147) Para Vigotski a escrita não é a tradição da língua oral porque se diferencia tanto no funcionamento quanto estrutura não tem som, não tem expressividade corporal nem gestual e por isso a oralidade distancia-se tanto da escrita, dificultando o processo de alfabetização já que exige consciência dessa diferença e a intencionalidade. A relação entre ensino e o aprendizado, não segue correlação temporal porque a instrução antecipa o desenvolvimento, já que o mesmo não obedece a um programa escolar e não há coincidência entre esses dois processos. Então, quando o professor está ensinando é apenas o começo da elaboração conceitual que não é o mesmo tempo que é o tempo letivo. Então, o desafio pedagógico é justamente descobrir a lógica interna do desenvolvimento que do curso diferente da instrução.
  • conceitos espontâneos e conceitos científicos: por meio das interações sociais os significados  das palavras e das ações vão sendo apropriados nas relações sociais concretas da vida. Esses significados evoluem, transformam-se e agregam novos significados as mesmas palavras e ações. Assim para que a prática pedagógica cumpra seu papel é necessário deixar de ser exclusividade da classe dominante para que haja a oportunidade de transformar o saber espontâneo ou cotidiano em saber escolar e científico. Vale lembrar que nas interações escolarizadas os conceitos espontâneos ou cotidianos são apenas pontos de partida e jamais de chegada para a elaboração conceitual. Para Vigotski os conceitos cotidianos preparam as crianças para a assimilação dos conceitos científicos que são uma grande possibilidade de desenvolvimento pedagógico da criança. Então quanto mais aprendem na escola os saberes organizados, mais se desenvolvem novos modos de olhar os conhecimentos cotidianos.
“as atividades educativas na instituição escolar, diversamente do que ocorre no cotidiano extra-escolar, são sistemáticas, têm uma intencionalidade deliberada e um compromisso explícito (legitimado historicamente) em tornar acessível o conhecimento formalmente organizado. Em tal contexto, os estudantes são desafiados a entender as bases dos sistemas de concepções científicas, a realizar abstrações e generalizações mais amplas acerca da realidade (que, por sua vez, transformam os modos de utilização da linguagem) e a tomar consciência de seus próprios processos mentais (metacognição). A intenção com esses conhecimentos possibilita ao sujeito novas formas de pensamento, de inserção e atuação em seu meio: à medida que expande seus conhecimentos, o indivíduo modifica sua relação cognitiva com o mundo. Em síntese, as premissas vygotskianas ressaltam o papel crucial que a cultura escolar tem sobre o comportamento e o desenvolvimento de funções psicológicas mais sofisticadas.” (REGO, in Oliveira, 2002, p.51)


  • aprendemos se já sabemos: a essência do desenvolvimento do conceito é que só aprendemos se já sabemos, pois é um ato de generalização, ou seja, a passagem de uma estrutura de generalização para outra, portanto um conceito mediador de outro. Por meio da conscientização dos conceitos cotidianos elaborados através de suas experiências sociais é possível diferenciar os conceitos científicos. A elaboração conceitual da palavra não é resultado de um processo individual, mas da prática social das crianças em diferentes instituições sociais.
  • a elaboração da escrita não é ato individual, mas cultural: “Com a alfabetização um novo período de elaboração da escrita e do conceito da escrita”(PADILHA,2008). É a elaboração conceitual realizada por meio da mediação dos signos, na interação pela linguagem, na linguagem e com a linguagem, então trata-se da utilização da escrita em experiências concretas.
  • nossos fundamentos são bases de nossas práticas: quando trabalhamos a escrita de forma funcional a escola passa a ter mais significado para os alunos e professores. A criança elabora conhecimentos e (re) elabora-os com a ajuda e intervenção dos professores. Vai aos poucos compreendendo as regras que são convenções e que não tem nada a ver com a realidade. Utiliza seus conhecimentos para escrever e por isso precisa da ajuda constante para reformular os conceitos cotidianos. As relações estabelecidas no ambiente escolar com as pessoas e materiais vão oportunizando a aproximação com a realidade e distanciando dela e cabe a escola partir do que a criança já sabe para aprender mais e muitas vezes substituir vários conhecimentos por outros que são científicos ou literários. Para a criança a leitura, a escrita com o passar do tempo, não é apenas um sistema simbólico, mas ao escrever elaboram visões de mundo, do papel da escrita na sociedade e a conquista de direitos. “Vivida como linguagem a escrita é código, é técnica, é significado, é objeto de conhecimento, é forma de interlocução, é modo de agir, é modo de dizer as coisas e os sentimentos.” (PADILHA, 2008); por isso a linguagem que é a conversão dos modos de interação na realidade sociocultural é a passagem obrigatória para a inserção cultural.
  • finalmente: as experiências por meio das relações sociais são indispensáveis para ampliar as visões de mundo, mas aproveitar as oportunidades é muito mais.

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, Mikhail, Marxismo e Filosofia da linguagem – problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem, LAHUD, Michel & VIEIRA, Yara Frateschi (trad.). 11ª ed. SP: Editora Hucitec, 2004
PADILHA, Anna Maria Lunardi. Conhecimento e elaboração conceitual: relações de ensino. XI Seminário Capixaba de educação Inclusiva. Universidade Federal do Esp. Santo, 2008.
REGO, Teresa Cristina, Configurações sociais e singularidades: o impacto da escola da escola na constituição dos sujeitos. in Marta Kohl de, REGO, Teresa Cristina, SOUZA, Denise Trento R., (org.). Psicologia, educação e as temáticas da vida contemporânea. SP. Moderna, 2002, pp.47- 76.

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